quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Cinema: Brilho eterno de uma mente sem lembranças


O que você faria se alguém lhe oferecesse a possibilidade de apagar de sua memória uma pessoa, ou uma fase de sua vida que ainda lhe causa dor e tristeza?

Esse é o questionamento ético e existencial trabalhado ao longo de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, filme dirigido pelo inconstante Michel Gondry e elencado por nomes de peso como Kirsten Dunst, Mark Ruffalo, Elijah Wood, Tom Wilkinson, além de Jim Carrey e a oscarizada Kate Winslet como protagonistas.

Joel Barish (Jim Carrey) é o típico pacato cidadão que sempre seguiu as regras vivendo uma vidinha sem graça, previsível e infeliz até conhecer, por acaso do destino, Clementine Kruczynski (Kate Winslet), uma garota completamente fora dos “padrões de normalidade”, excêntrica, bipolar e autêntica. Deste encontro nasce uma intensa história de amor repleta de muitos altos e baixos.


Carrey, que já provara ser capaz de também interpretar papéis dramáticos, dá conta do recado neste filme, porém é Winslet quem realmente brilha (para variar). Sua personagem é psicologicamente desequilibrada e ao mesmo tempo cativante, adjetivos que a inglesa de Titanic consegue transbordar na tela de maneira dosada e competente.

Com o passar do tempo Joel se torna inseguro e intolerante, enquanto Clementine (que parece gostar de remeter seu nome à música Oh My Darling Clementine) se entrega à bebedeira, na tentativa de suportar um namorado ranzinza e pouco criativo, que a perde dia após dia em uma rotina sufocante.

No momento em que Joel decide se vingar e também apagar todas as suas memórias deste relacionamento, somos transportados a uma jornada lindamente bem editada e compreensivamente confusa (se é que isso é possível), regada a ótimos efeitos especiais e diálogos intensos. A vasta experiência de Gondry como diretor de vídeo clipes se encontra impressa nesta película pouco linear, onde inúmeros flashbacks se misturam organicamente às fantásticas e até surreais sequencias de cenas ocorridas dentro da mente de Joel, enquanto o famigerado processo de limpeza de memória ocorre. O roteiro original de Charlie Kaufman não poderia ter caído em melhores mãos!

E como todo “bom prato” merece um bom acompanhamento, uma história paralela se desenvolve ao redor do respeitado elenco de fundo, levantando questionamentos sérios sobre até onde o homem pode brincar de ser Deus e mexer com a mente das pessoas, mesmo quando elas pediram e pagaram por tal. Até onde temos o direito de nos livrar do passado e simplesmente apagá-lo como num passe de mágica, sem sofrer as consequências de nossas más ações pretéritas?

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é um filme tecnicamente redondo e bonitinho, que nos faz refletir sobre aprendizado com os erros, ao invés de esquecimento dos mesmos, além de nos lembrar que sempre estaremos exatamente onde deveríamos estar, vivendo as experiências que deveríamos viver.

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