terça-feira, 22 de maio de 2012

Em cima do muro

Houve, na minha vida, um período muito angustiante e muito doloroso. Foi há uns anos atrás, quando tive que fazer uma escolha que traria consequências para toda a minha história. Ser ou não ser padre? Casar-me? Ter família ou ser um celibatário? A angústia da dúvida me atormentava dia e noite. Depois de um longo caminho de acompanhamento vocacional com o Seminário São José de Divinópolis, cheguei a uma resposta: sim, eu quero ser padre. E a partir daí, tudo na minha vida se clareou. Pude dar meus passos, tomar as minhas providências, fazer o que tinha de ser feito. E o melhor de tudo: eu sabia qual direção percorrer. Tinha o seminário, a filosofia, a teologia, o diaconato e o sacerdócio. Bom, até hoje este ainda é meu desejo, como todos sabem.
Mas quero chamar atenção para o que eu vivi naquela época. Era adolescente ainda. Estava começando a firmar minha identidade. Foi uma ocasião em que subi em cima do muro e precisava tomar uma decisão, porque precisava planejar a vida e elaborar os meus sonhos. Essa experiência de ficar em cima do muro não é muito agradável e nem muito construtiva. Lembro-me que ficava dias pesando e pensando as hipóteses: se eu for padre terei estas vantagens e estas desvantagens... se eu for pai de família terei estas e estas... e assim sucederam-se longas reflexões. Acredito eu que todo mundo já passou por isso. Tem também a época do vestibular, que acompanhei bem dos meus colegas e amigos: qual faculdade fazer? Que profissão escolher? Tem o dilema daqueles que querem se casar: será que é ele o homem ou a mulher da minha vida? Dilemas são muros que parecem querer nos parar, e, diante deles, qual é a nossa reação? Subir e ficar lá no alto. Por um tempo é boa a sensação de ficar entre duas realidades, mas a vida pede uma escolha, e geralmente, tem de ser rápida.
E assim acontece conosco quando nos encontramos com Jesus. Logo que começamos a ouvir a palavra de Deus (na Bíblia e na Igreja) começamos a nos sentir incomodados. Algumas das nossas convicções parecem ruir. Sentimo-nos irritados com algumas exigências do Evangelho: você tem que amar seu irmão... é pecado fazer isso... você precisa eliminar todos os outros senhores da sua vida... São pedidos muito exigentes, e quando são feitos, doem nosso coração. Cresce um muro. De um lado está a vida velha e o homem velho, cheio de vícios e paixões, na zona de conforto, porém com um enorme vazio existencial. De outro a vida cristã, aparentemente pesada e dura, cheia de exigências, de nãos e de mandamentos, mas que é capaz de conferir um sentido profundo à nossa existência. Confrontados com estas duas possibilidades, subimos no muro. Ficamos indecisos: será que me entrego mesmo ao Cristo? Ele pode pedir algo de mim e eu não darei conta de abrir mão... E se eu disser não? O que acontecerá? Será que eu sou capaz de renunciar aos meus gostos e vontades? Será que Jesus me pedirá para eu deixar de ser quem sou? E se eu continuar na vida velha? Pelo menos tenho meus prazeres, a vida é mais fácil... Mas vou continuar vazio e sem sentido... E a dúvida está armada. O coração começa a se angustiar e uma guerra se deflagra no nosso íntimo. Para qual lado descer?
Uma coisa, caro leitor, é certa: não se pode ficar em cima do muro, a perna começa a doer, o espaço é pequeno e a angústia é muita. Você precisa se decidir.
Na Bíblia, um dos versículos mais intrigantes ao meu ver é o 12 do Salmo 50: dai-me, ó Senhor, um espírito decidido. A dúvida que nos oprime não vem de Deus. Há sim momentos que precisamos duvidar para refletir, contudo temos que escolher o que melhor para nós. 
A vida cristã, caro leitor, por mais difícil que seja, é a única via para se preencher o interior. Do contrário, nada é capaz de nos encher. A sensação que tenho é que Deus, ao nos criar, deixou um imenso vazio dentro de nós que só pode ser preenchido com o amor dEle - que é amor incondicional, imenso, eterno. 
Para nós, que somos de uma geração criada no conforto e na comodidade, no prazer extremo e no luxo, é muito difícil abandonar a vida velha e assumir a vida nova. É um desafio, e por isso é preciso coragem. Está em xeque a nossa salvação. Essa descida do muro pode mudar o rumo da nossa vida, levar-nos a um horizonte de salvação, ou nos manter na mediocridade. Eu convido a você, caro leitor, a não ter medo de se abandonar nas mãos de Deus. O nosso erro é pensar muito naquilo que vamos perder. Pense no que você vai ganhar: a vida eterna. Quer coisa melhor? Você acha que os deuses do mundo (o dinheiro, o lucro a todo custo, o sexo desordenado) podem dar uma vida eterna a você? Lembre-se: tudo passa. Deus permanece.
Meu desejo sincero é que você desça do muro para o lado de Jesus. Enfrente este dilema. Tratando-se da nossa salvação não podemos hesitar em escolher o melhor. Depois desse muro qualquer outro que aparecer vai ser fichinha.

Na paz do Senhor, seu irmão
Sem. Gregory Rial*

*Gregory Rial é seminarista pela Diocese de Divinópolis. Cursa filosofia na FAM e é fundador do grupo Kerigma.

Um comentário:

  1. muito bom... curti especialmente a questão final: o que pode realmente nos preencher?

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