quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Deus não está morto!

(Apesar de já estar disponível no Netflix, em algumas cidades, ele tem estreia nos cinemas hoje, 21 de Agosto).
Atenção: Contém Spoilers!
Sinopse: Quando o jovem Josh Wheaton (Shane Harper) entra na universidade, ele conhece um arrogante professor de Filosofia que não acredita em Deus. O aluno reafirma sua fé, e é desafiado pelo professor a comprovar a existência de Deus. Começa uma batalha entre os dois homens, que estão dispostos a tudo para justificar o seu ponto de vista – até se afastar das pessoas mais importantes para eles.
É um filme de cunho evangélico (protestante), como tantos outros, que visam passar uma história de superação… Mas não somente isso. Ele tende a ser mais profundo, uma vez que toca em pontos centrais da nossa vida e que nos faz mergulhar em toda a sua trama. É também um filme que mexe com os sentimentos e, por isso, prepare a caixa de lenços, pois, certamente, irá enxergar ao menos um pouco da sua história em algumas das cenas que nele são passadas.
Sem adentrarmos nos pretextos, contextos e textos e em muitas das diversas falácias filosóficas, e com um dos mais famosos representantes desta frase o alemão Nietzsche que, categoricamente afirmou em seus livros “A gaia ciência” e principalmente em “Assim falou Zaratustra”, que “Deus está morto”, analisemos esta película à luz do que nos é caríssimo: da fé católica.
Ao mesmo tempo, sob o ponto de vista técnico, temos uma pergunta: Qual foi o último filme de sucesso com temática diretamente cristã lançado nos últimos anos? Difícil lembrar! Nesse instante, nos vêm à memória A Paixão de Cristo, incrível produção de Mel Gibson, que estreava há 10 anos (2004) nos cinemas. Fora esse, não há nenhum outro tão marcante.
Os filmes cristãos sempre sofreram nas telonas, seja pelo fato de a maioria deles serem produções independentes, de baixo orçamento e poucos recursos, seja pela má adaptação das mensagens cristãs à linguagem do cinema. Quando há interesse em se fazer algo de qualidade e com grande produção, as histórias e mensagens, a fim de serem mais comerciais, se tornam tão confusas, que o sentido cristão presente nelas é quase incompreensível, como foi o caso do recente filme Noé. No caso de Deus não está morto, é justamente essa dificuldade de transformar a mensagem cristã em algo convincente e criativo que o torna um filme comum e completamente previsível. Mas, sabe o que é mais frustrante? Ele poderia ter dado mais certo.
Deus não está morto tem um enredo interessantíssimo e muito atual. A perseguição ao cristianismo já adentrou os espaços culturais há um bom tempo e é constatada, especialmente, dentro das universidades. Quem diria que a Igreja Católica e o cristianismo, os verdadeiros responsáveis pela criação de algumas das principais bases da civilização ocidental, fossem tão perseguidos e difamados dentro dos próprios espaços da Academia. Milhares de jovens universitários cristãos relatam, constantemente, o desprezo e até o isolamento que vivem pelo simples fato de professarem e defenderem sua Fé, fruto de uma injustiça histórica e anacrônica que condena o cristianismo como religião obscurantista e alheia ao uso da Razão. Neste sentido, é sempre bom recordar as sábias e santas palavras de São João Paulo II, na Encíclica Fides et Ratio:
“A Fé e a Razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecer a Ele, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio.”  (Cf. Introdução à Fides et Ratio).
A trama principal – os conflitos do jovem universitário Josh Wheaton e sua coragem em defender a Fé – é muito boa e merecia uma atenção e um cuidado maior do diretor. Para quem tiver interesse em conhecer melhor e/ou aprofundar os argumentos filosóficos utilizados por Josh na defesa da existência de Deus, quais sejam os argumentos cosmológico, ontológico e moral, dentre outros, há no Youtube célebres debates (Craig x Atkins, Craig x Hitchens) sobre o tema, que podem nos ajudar muito em nossa formação intelectual e espiritual.
Mas é preciso deixar claro que, até este ponto do nosso texto, a crítica feita não tem a intenção de depreciar o filme, ao contrário, visa analisá-lo sob o foco um tanto quanto técnico. Como dito, o enredo é atual e reflete a realidade dos desafios do cristianismo na modernidade, porém, devemos reconhecer que nós, cristãos, somos capazes de fazer muito melhor em prol da Evangelização através das artes, especialmente, no cinema.
Tendo feito esta introdução, estes apontamentos, adentramos na análise do filme em si: O Drama, baseado em um livro homônimo, de Rice Broockscom diversos encontros e desencontros reais e outros nem tão reais assim, se desenrola muito bem. Diferentemente do que boa parte da crítica cinematográfica tem dito, percebemos que, apesar de certa “ingenuidade” transmitida no longa, ele reforça elementos essenciais tão presentes em nosso dia a dia, sobretudo no meio acadêmico.
É instigante como logo de cara um jovem universitário, calouro é abordado por outro que o recepciona e, ao ver a cruz em seu pescoço lhe “adverte” que será perseguido pelo professor de Filosofia, que era especialista em Ateísmo.
Mas, oportunamente, o jovem protagonista logo cita C.S. Lewis, quando informado sobre o modo como o professor agia em suas aulas: “Só um grande risco pode testar a realidade de uma crença”.
Paralelamente, mas, obviamente, não desligadas da história do jovem universitário, vão acontecendo diversas outras cenas em que, por exemplo, uma jovem repórter se depara com um Câncer e começa a fraquejar em tudo o que fazia e para agravar ainda mais, seu namorado revela que não lhe amava, mas que o seu relacionamento era de mero e puro interesse… Outros personagens são dois Pastores (Reverendos), velhos amigos que em tudo e por tudo diziam: “Deus é bom sempre!” Apesar de todas as adversidades que passavam.
Um dos diálogos mais bonitos do filme é quando um jovem muito rico, que tinha a mãe acometida por Esclerose em fase aguda, vai visitá-la, por insistência de sua irmã e, aparentemente, começa a falar sozinho para ela, de repente, a ouve dizer, sem se lamentar, ao contrário dele: “às vezes o Diabo permite que as pessoas vivam livres de problemas”. E este é ponto em que queríamos chegar: o do livre-arbítrio! 
O ser humano é livre por natureza e todas as suas escolhas, são opções de sua inteira responsabilidade, ainda que, pro vezes, não consiga ou não queira enxergar as consequências que decorrem da liberdade dada por Deus. Por vezes somos acometidos, atormentados e nos permitimos sofrer diversas dores e outras coisas, reclamamos que “Deus nos abandou”, que Ele não ouve as nossas orações, que não é capaz de se compadecer de nós e das nossas dificuldades… E começamos a cambalear na Fé. Alguns até chegam ao ponto de afirmarem que “perderam-na”. Ora, em se tratando de Fé, como já dizia Santo Agostinho, em uma de suas cartas, “não há como perder o que nunca teve; Quem afirma que a perdeu é porque, certamente, nunca a encontrou verdadeiramente”.
No filme, o jovem luta academicamente contra o que o seu professor tenta “ensinar”. Mas, na verdade ele combate o bom combate e dá razões de sua fé, na esperança, como nos impele São Pedro. (Cf. 1Pd 3,15b). Além do mais, o Senhor é por nós! Nunca nos abandona. E isto é bem retratado no filme, justamente com o Reverendo citando Mateus 10,32-33: Devemos ter a coragem de sermos e de darmos testemunho da nossa fé, não importando onde estivermos.
Temos acompanhado os assassinatos de tantos irmãos em nossa fé, no Oriente Médio, nas últimas semanas. Certamente são poucos os que teriam a coragem de negar a própria vida e não negar a fé católica, frente aos muçulmanos.
A banda gospel (Newsboys) que aparece no filme realmente existe (e é ela mesma quem toca) dá o título do filme e ainda nos convida, como São João Batista, a “prepararmos o caminho, pois o Rei está vindo!”
A ideia transmitida é que “Jesus é nosso amigo e, por isso, ele precisa ser defendido”. É isto que o jovem estudante procura mostrar aos seus colegas de curso e ao arrogante professor que, no fundo, tem uma mágoa tão grande que se tranca em si e quer que os outros também sintam tanto ou mais que ele a dor da perda…
A fé é a virtude que traduz a entrega confiada em Deus e sua acolhida amorosa. Abre-se à “Luz na qual vemos a luz”, como “fonte da vida”. Identifica em Jesus Cristo que “nos amou e se entregou” por nós, o Deus que se fez auto-doação, despertando em nós a resposta de amor, já “derramado em nossos corações pelo Espírito Santo”. Pai, Filho e Espírito Santo são fonte e objeto da “fé que opera pela caridade.”
É preciso entendermos que o primeiro dever do homem, ao qual Deus deu Sua Palavra é a fé. Quando o Senhor que nos criou nos convida à fé e nos dá a possibilidade de reconhecer que é Ele quem chama, se exige de nós “a obediência de fé”. Somente se acreditamos n’Ele podemos esperar n’Ele e amá-lo. A fé é “o início da salvação humana”[1]. Sem a fé é impossível ao homem decadente não pecar durante o curso da sua vida, não ser arbitrário ou egoísta, ou insensível. “É a fé, de fato, que eleva o espírito e lhe permite considerar as coisas humanas na perspectiva de Deus”[2]. “Sem a fé é impossível ser agradável a Deus.”
A fé é uma virtude infusa do Espírito Santo. É o dom permanente de um Deus fiel. Quem tem levado a Deus uma fé explícita, cristã e católica, tem o dever de não abandoná-la jamais. Aqueles que não têm mais recebido o dom da fé explícita, podem efetivamente crer em Deus e servi-Lo generosamente nos de fora da Igreja visível; aqueles, ao invés, que têm recebido o dom de uma plena fé católica, não devem rejeitá-la.
O Concílio Vaticano I recorda aos homens que devem se enriquecer à luz da fé, e que têm o dever de jamais repudiar o dom recebido da benignidade de Deus.
É claro que um crente tem sempre que pedir. O dom da fé é uma resposta parcial a quem é envolto da verdade. Não elimina todos os problemas. Tudo o que na fé se ensina tem a característica de certeza firme, mas não é esta a visão clara, própria da vida eterna. Quem ama a verdade que salva, pode seguramente formular uma ulterior questão, mas ele perguntará na luz da fé, tendendo, assim, àquele conhecimento perfeito que nós gozaremos no céu.
A sabedoria do mundo tem suas próprias questões a fazer à fé, e as faz no espírito que lhe é próprio. Também estas questões que são perversas de hostilidade e ofuscam o mandamento de uma justa prospectiva da sabedoria mundana, devem receber uma resposta cristã.
Estes, portanto, são os deveres essenciais da Fé: crer em tudo o que somos no sentido de reconhecer como palavra de Deus; tender a uma fé racionalmente iluminada; aderir firmemente à palavra de Deus na sua pureza, negando ser “agitados por todo vento de doutrina [...] que nos induz ao erro.” Da mesma forma, os Pastores de almas e os pais, que têm a responsabilidade de cuidar dos seus, que são pequenos em Cristo, devem ser infatigáveis testemunhas da verdade que Deus revelou, conservando a fé na sua totalidade e “sempre com paciência e doutrina.”
Precisamos deixar que “o Espírito fale em nós. Mas, a questão é estarmos dispostos a ouvi-Lo”. A cada um compete não negarmos o dom da fé! Afinal, “Deus é bom sempre!”

[1] São Fulgêncio “De fide, ad Petrum”. Prólogo 1 (ML 65,671) citado no Concílio de Trento, 6ª sessão, em 13 de janeiro de 1547 no “Decreto sobre a justificação”. Cap. 8 (DS 1532) e no Concílio Vaticano I, 3ª sessão, em 24 de abril de 1870, na “Constituição Dogmática sobre a fé católica”. Cap. 3 (DS 3008).
[2] GS 15.
Elaboração de Joshua Lopes e Cleiton Robsonn.
Ficha Técnica:
Título Nacional: Deus Não Está Morto.
Título Original: God’s Not Dead.
Elenco: Shane Harper, Kevin Sorbo, David White, Trisha LaFache, Hadeel Sittu, Marco Khan, Cory Oliver, Dean Cain, Jim Gleason, Benjamin Ochieng, Cassidy Gifford, Paul Kwo.
Direção: Harold Cronk.
Gênero: Drama.
Duração: Aprox. 113 minutos.
Distribuidora: Graça Filmes.
Estreia Nacional: 21 de Agosto de 2014.
Classificação: 12 anos

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