sexta-feira, 11 de abril de 2014

6ª dor: A mãe recebe o seu Filho morto nos braços.


Com a alma imersa na mais profunda dor, Maria viu Longinus transpassar o coração de seu Filho, sem poder dizer uma palavra! Derramou muitas lágrimas... Só Deus pode compreender o martírio desta hora, na alma e no coração!

1. Maria saúda as chagas de Jesus, como fontes de nossa salvação

Ó vós que passais pela estrada, atendei e vede, se há dor semelhante à minha dor (Jr 1,12). Almas devotas, escutai o que hoje vos diz a Mãe dolorosa: Filhas diletas, não quero que procureis consolar-Me, porque Meu coração já não pode achar consolação na terra, depois da morte de Meu caro Jesus. Se quereis dar-Me gosto, vinde e vede se houve no mundo dor semelhante à Minha, ao ver como Me arrebataram com tanta crueldade Aquele que era todo o Meu amor. Mas, Senhora, já que não buscais consolo, mas antes sofrimento, eu Vos direi que nem com a morte de Vosso Filho findaram as Vossas dores. Ainda hoje, daqui a pouco, sereis ferida dolorosamente por uma espada. Vereis uma lança cruel transpassar o lado de Vosso Filho, já sem vida. E depois tereis de receber, em Vossos braços, Seu corpo descido da cruz. 

 Estamos na sexta dor da pobre Mãe de Jesus. 

 Contemplemo-la com atenção e lágrimas de piedade. Até então vieram as dores cruciar Maria, uma a uma. Mas agora assaltaram-nA todas juntas. Basta dizer a uma mãe que seu filho morreu, para toda inflamá-la o amor ao filho que a deixou. Para consolo das mães atribuladas com a perda de algum filho, costumam pessoas recordar-lhes os desgostos que deles receberam. Porém eu, ó minha Rainha, se quisesse consolar-Vos pela morte de Jesus onde acharia algum desgosto dado por Ele, para vo-lo recordar? 

 Ah! Ele sempre Vos amara, sempre Vos obedecera e respeitara. Agora O perdestes. Quem há que possa exprimir Vossa aflição? Exprimi-a Vós mesma, que cruelmente a sofrestes!
 Morto nosso Redentor, diz um piedoso autor, acompanharam-Lhe a alma santíssima os amorosos afetos da excelsa Mãe, para apresentá-la ao Eterno Pai. Disse talvez o seguinte: "Apresento-Vos, ó meu Deus, a alma imaculada do Meu e Vosso Filho, que Vos obedeceu até a morte; recebei-a em Vossos braços. Eis satisfeita a Vossa justiça e executada a Vossa vontade; eis consumado o grande sacrifício para eterna glória Vossa". Voltando-Se depois para o corpo inanimado de Seu Jesus: " Ó chagas, disse então, chagas amáveis, congratulo-Me convosco, porque por meio de vós foi dada a salvação ao mundoPermanecereis abertas no corpo de Meu Filho, como refúgio de todos quantos recorrem a vós. Quantos por vós hão de receber o perdão de seus pecados e inflamar-se no amor do Sumo Bem! 

2. A dolorosa cena do lanceamento 
 Por que não ficasse desfeita a festa do dia seguinte, sábado pascal, exigiram os judeus fosse logo retirado da cruz o corpo do Senhor. Mas como não podiam retirar o sentenciado antes de estar certamente morto, vieram alguns algozes, com pesadas clavas de ferro, e quebraram as pernas aos dois ladrões crucificados. Aproximaram-se também do corpo de Jesus. Enquanto chorava a morte de Seu Filho, vê Maria esses homens armados que se chegam a Jesus. Estremece de terror, mas logo Lhes diz:Ai! Meu Filho já está morto: deixai de ultrajá-lO ainda mais, e de ainda mais Me atormentar o pobre coração de mãe desolada! 

Pediu que não Lhe quebrassem as pernas observam Boaventura Baduário. Mas enquanto assim falava, ó 

Deus! vê um soldado erguer com ímpeto a lança e com ela abrir o lado de Jesus. "Um dos soldados lhe abriu (a Jesus) o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água" (Jo 19,34). A esse golpe de lança tremeu a cruz e o Coração de Jesus foi dividido, como por revelação o soube S. Brígida. Saiu sangue e água, pois do primeiro restavam apenas essas últimas gotas. Quis o Salvador derramá-las para nos mostrar que já não tinha sangue que nos dar. Foi para Jesus a injúria desse golpe de lança, mas a dor sentiu-a a Virgem Mãe, diz Landspérgio. Querem os Santos Padres que tenha sido propriamente essa a espada predita à Virgem por Simeão. Não foi uma espada de aço, mas de dor que transpassou a Sua alma bendita, no Coração de Jesus onde sempre morava. Entre outros, diz S. Bernardo: A lança, que abriu o lado de Jesus, transpassou a alma da Virgem, que não podia separar-Se do Filho. Ao ser retirada a lança - revelou a Mãe de Deus a S. Brígida - o sangue de Meu Filho tingia-Lhe a ponta; parecia-Me nesse momento que Meu coração estava transpassado, ao ver que o do Meu Filho fora rasgado pelo golpe. E à mesma santa disse o anjo, que só por um milagre escapou Maria de morrer naquela ocasião. Nas outras dores, a Virgem tinha o Filho a seu lado, mas nem semelhante conforto lhe resta agora. 

3. A Mãe dolorosa recebe nos braços o Filho sem vida 

A atribulada Senhora receava, entretanto, que fizessem outras injúrias a Seu amado Filho. Pediu a José de Arimatéia lhe obtivesse, por isso, de Pilatos o corpo de Jesus, para que ao menos depois de morto o pudesse preservar dos ultrajes dos judeus. Foi José ter com Pilatos, expôs-lhe a dor e o desejo da aflita Mãe. Segundo o Pseudo-Anselmo, Pilatos, compadecendo-se da Mãe, Lhe concedeu o corpo do Redentor. Eis que descem o Salvador da cruz em que morrera! Ó Virgem sacrossanta, destes com tanto amor Vosso Filho ao mundo, e vede como Ele vo-lo entrega! Por Deus, exclama a Senhora, em que estado, ó mundo, Me entregas Meu amado Filho! Era Ele o Meu querido, branco e rosado(Ct 5, 10); e tu mO entregas negro pelas contusões e rubro não pela cor, mas pelas chagas de que O cobriste?! Era belo e ei-lO agora desfigurado! Encantava com Seu aspecto, mas causa horror agora a quem O vê! Quantas espadas feriram a alma dessa Mãe quando em Seus braços depuseram o Filho descido da cruz! diz um autor sob o nome de S. Boaventura. Contemplemos o indizível sofrimento de uma mãe à vista do Seu filho sem vida. 

 Conforme as revelações de S. Brígida, encostaram três escadas para descerem o corpo de Jesus. Primeiro desprenderam os santos discípulos as mãos, depois os pés e entregaram os cravos a Maria, como refere Metafrastres. 

Segurando o corpo de Jesus, um por cima e outro por baixo, o desceram da cruz. 

 Ergue-se a Mãe, relata Bernardino de Busti, estende os braços para o Filho, abraça-O e senta-Se aos pés da cruz. Contempla-Lhe a boca aberta e os olhos obscurecidos; examina Seu corpo rasgado pelas chagas e os ossos descobertos. Tira-Lhe a coroa, e vê que horríveis chagas os espinhos fizeram naquela sagrada cabeça. Olha finalmente as mãos e os pés transpassados pelos cravos e diz: Ah! Filho, a que extremos Vos reduziu Vosso amor pelos homens! Que mal lhes fizeste para que assim Vos maltratassem? Vós me eras pai, irmão e esposo, - fá-la dizer Bernardino de Busti; eras minha glória, minha delícia e meu tudo. Filho, vê como estou aflita, olha-Me e consola-Me. Mas ai! não Me falas mais, porque estás morto. E dirigindo-Se aos instrumentos de martírio: Ó espinhos cruéis, ó desapiedada lança, como pudestes assim atormentar vosso Criador? Mas por que acuso os espinhos, os cravos? Ah! pecadores, fostes vós que assim maltratastes a Meu Filho! 

4. Queixas de Maria sobre os pecadores 

Assim então Maria Se queixou de nós. E se agora pudesse sofrer, que diria? Que pena sentiria, vendo que os homens, mesmo após a morte de Jesus, continuam a maltratá-lA e crucificá-lA com seus pecados? Nunca mais atormentemos, pois, essa Mãe aflita! Se pelo passado a afligimos com nossas culpas, façamos agora o que Ela nos diz. Mas que é que nos diz? "Tomai isto a sério, vós prevaricadores" (Is 46, 8). Pecadores, voltai ao ferido Coração de Jesus; arrependei-vos, que ele vos acolherá. 

Pelo abade Guerrico, nos diz ainda a Senhora: Fugi de Jesus vosso Juiz, para Jesus, vosso Salvador; fugi do tribunal para a cruz! 

A Santíssima Virgem revelou a S. Brígida que, quando desceram Seu Filho da cruz, Ela Lhe cerrou os olhos, mas não pode fechar os braços. Jesus dava-nos assim a entender que Seus braços hão de ficar sempre abertos para acolher todos os pecadores arrependidos.

Ó mundo, continua Maria, "eis que agora estás no tempo, no tempo de amor" (Ez 16, 18). Meu Filho morreu para salvar-te; já não é para ti um tempo de temor, mas de amor. É tempo de amares Aquele que tanto quis sofrer, para provar quanto te ama. O Coração de Jesus foi ferido, diz S. Boaventura, a fim de nos mostrar pela chaga visível o Seu amor invisível. E alhures o Santo faz Maria dizer: Se Meu Filho quis que Lhe fosse aberto o lado para dar-te Seu coração, é justo que Lhe dês também o teu. 

Se, portanto, quereis, ó filhos de Maria, achar lugar no Coração de Jesus, sem receio de repulsa, ide a ele juntamente com Maria, por quem alcançareis tal graça. Assim nos exorta Hubertino de Casale. 


ORAÇÃO

Ó Virgem dolorosa, ó alma grande pelas virtudes e também pelas dores, pois que ambas nascem do grande incêndio do amor que tendes a Deus, o único objeto amado por Vosso coração. Ah! minha Mãe, tende piedade de mim, que não tenho amado a Deus e tanto O tenho ofendido. Vossas dores me enchem de grande confiança, e me fazem esperar o perdão. Mas isso não me basta; quero amar a meu Senhor. E quem me pode alcançar essa graça melhor que Vós, que sois a Mãe do belo amor? Ah! Maria, a todos consolastes; consolai também a mim. Amém.


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