O que você faria se alguém lhe oferecesse a possibilidade de
apagar de sua memória uma pessoa, ou uma fase de sua vida que ainda lhe causa
dor e tristeza?
Esse é o questionamento ético e existencial trabalhado ao
longo de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, filme dirigido pelo
inconstante Michel Gondry e elencado por nomes de peso como Kirsten Dunst, Mark
Ruffalo, Elijah Wood, Tom Wilkinson, além de Jim Carrey e a oscarizada Kate
Winslet como protagonistas.
Joel Barish (Jim Carrey) é o típico pacato cidadão que
sempre seguiu as regras vivendo uma vidinha sem graça, previsível e infeliz até
conhecer, por acaso do destino, Clementine Kruczynski (Kate Winslet), uma
garota completamente fora dos “padrões de normalidade”, excêntrica, bipolar e
autêntica. Deste encontro nasce uma intensa história de amor repleta de muitos
altos e baixos.
Carrey, que já provara ser capaz de também interpretar
papéis dramáticos, dá conta do recado neste filme, porém é Winslet quem
realmente brilha (para variar). Sua personagem é psicologicamente
desequilibrada e ao mesmo tempo cativante, adjetivos que a inglesa de Titanic
consegue transbordar na tela de maneira dosada e competente.
Com o passar do tempo Joel se torna inseguro e intolerante,
enquanto Clementine (que parece gostar de remeter seu nome à música Oh My
Darling Clementine) se entrega à bebedeira, na tentativa de suportar um
namorado ranzinza e pouco criativo, que a perde dia após dia em uma rotina
sufocante.
No momento em que Joel decide se vingar e também apagar
todas as suas memórias deste relacionamento, somos transportados a uma jornada
lindamente bem editada e compreensivamente confusa (se é que isso é possível),
regada a ótimos efeitos especiais e diálogos intensos. A vasta experiência de
Gondry como diretor de vídeo clipes se encontra impressa nesta película pouco
linear, onde inúmeros flashbacks se misturam organicamente às fantásticas e até
surreais sequencias de cenas ocorridas dentro da mente de Joel, enquanto o
famigerado processo de limpeza de memória ocorre. O roteiro original de Charlie
Kaufman não poderia ter caído em melhores mãos!
E como todo “bom prato” merece um bom acompanhamento, uma
história paralela se desenvolve ao redor do respeitado elenco de fundo,
levantando questionamentos sérios sobre até onde o homem pode brincar de ser
Deus e mexer com a mente das pessoas, mesmo quando elas pediram e pagaram por
tal. Até onde temos o direito de nos livrar do passado e simplesmente apagá-lo
como num passe de mágica, sem sofrer as consequências de nossas más ações
pretéritas?
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é um filme
tecnicamente redondo e bonitinho, que nos faz refletir sobre aprendizado com os
erros, ao invés de esquecimento dos mesmos, além de nos lembrar que sempre
estaremos exatamente onde deveríamos estar, vivendo as experiências que
deveríamos viver.
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