A Editora Paulus traduziu e publicou (em 2009) uma obra
italiana com comentários aos textos bíblicos proclamados nas celebrações
eucarísticas. No volume dedicado à Quaresma e Páscoa (Leccionário Comentado.
Regenerados pela Palavra de Deus. Quaresma - Páscoa — organização de Giuseppe
Casarin) faz uma breve apresentação da Quaresma e dos textos bíblicos propostos
na Liturgia. A coleção está estruturada à maneira da "lectio divina",
acompanhando progressivamente todo o ano litúrgico nos seus tempos fortes, nas
suas festas mas também nos dias feriais, todas as vezes que a comunidade cristã
é convocada para celebrar a Cristo presente na Palavra e no Pão eucarístico.
Todos os anos, o período quaresmal tem a finalidade de
preparar os cristãos para a Páscoa. A liturgia, com todas as suas propostas
festivas e feriais, guia os fiéis para a celebração da Páscoa, e os catecúmenos
para os sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Confirmação ou Crisma, e
Eucaristia) que celebrarão na Vigília Pascal.
Batismo e Reconciliação ou Penitência são, portanto, as
características que assinalam este período, sobretudo para aqueles que, já
redimidos e renovados em Cristo, se dispõem, através do itinerário anual da
caminhada penitencial, a renovar a sua adesão ao mistério da morte e da
ressurreição do Salvador.
O tempo da Quaresma decorre de Quarta-feira de Cinzas até à
Missa de Quinta-Feira Santa, ou da Ceia do Senhor, inclusive. São quarenta dias
(os domingos não entram na contagem!) nos quais os fiéis, através da riqueza
dos itinerários festivo e ferial, são amparados na sua caminhada por uma
riqueza que cada ano é proposta sempre do mesmo modo (exceto o lecionário
festivo, conquanto se possa utilizar sempre o lecionário do ano A se se quiser
renovar ou aprofundar em anos seguidos o itinerário batismal).
Diversamente dos outros períodos, a Quaresma é um espaço de
tempo em que a escuta da Palavra é acompanhada por obras que denotam a atitude
de conversão: o jejum e a penitência completam tudo o que caracteriza quer o
anúncio quer a celebração. E nesta linha não pode esquecer-se o papel das
expressões típicas da piedade popular.
Uma riqueza temática com amplos aspetos espirituais e vitais
O percurso ferial oferecido pelo Lecionário é diverso do que
apresenta o do Tempo Comum. Com efeito, as leituras são escolhidas cada dia "segundo um tema". Quer a primeira leitura, sempre unida ao salmo
responsorial, quer o Evangelho, proclamam um tema unitário. Com o passar das
várias semanas, o fiel tem deste modo diante de si o apelo dos elementos
fundamentais da vida cristã, segundo uma riqueza que pode ser assim
sintetizada:
- nos dias depois das Cinzas: jejum espiritual; conversão
interior; fraternidade;
- na primeira semana: amor do próximo e justiça; conversão;
cumprimento da vontade do Pai; oração feita com fé; chamados à santidade;
- na segunda semana: perdão dos pecados; interioridade e
valores verdadeiros; anúncio da Paixão;
- na terceira semana: escutar o único Senhor; salvos pela
fé; perdoarmos para sermos perdoados; interioridade do culto;
- na quarta semana: a vida de renovação interior e a
aliança; incredulidade; tentativas para matarem o Senhor;
- na quinta semana: o poder do Senhor que salva e acolhe os
homens na unidade;
- nos dias da Semana Santa: as leituras dos primeiros dias
da Semana Santa referem-se ao mistério da Paixão (a unção em Betânia; o anúncio
e a efetivação da traição de Judas).
Quando se juntam estes temas notamos a sua riqueza e valor,
quer considerados em si mesmos, quer no conjunto do itinerário do inteiro ano
litúrgico.
A esta riqueza deve acrescentar-se a da Liturgia das Horas,
que a complementa. Aqui a palavra de Deus oferece um percurso que completa o
das leituras da celebração eucarística; partindo da ampla leitura do Livro do
Êxodo, passa-se à Carta aos Hebreus que guia a 'lectio' do fiel orante até à
manhã do Sábado Santo. Dos conteúdos do "evangelho da antiga aliança" para o
texto "homilético", com o qual o autor da Carta quis fornecer a chave interpretativa
do mistério da antiga aliança à luz de Cristo e portanto o fundamento do culto
cristão.
[...]
A celebração da Reconciliação, os conteúdos da Liturgia das
Horas, as diversas formas penitenciais do jejum juntamente — subordinadamente,
é claro — com as formas da piedade familiar, oferecem as dimensões, os
conteúdos, os desafios, os auxílios para um "caminho de verdadeira conversão" a
que é chamado a percorrer, cada ano, o fiel na Quaresma "sinal sacramental de
conversão".
Fonte: Laboratório da Fé
Fonte: Laboratório da Fé
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