O Secretariado de Liturgia da diocese do Porto - Portugal, num artigo
do jornal "Voz Portucalense" (26 de fevereiro de 2014) recorda que a Quaresma é
um tempo que prepara e conduz à Páscoa; e apresenta "algumas notas para a viver
e celebrar validamente": ter bem claro o objetivo; importa considerar que não
há muitas ajudas do exterior para a vivência quaresmal; fazer um grande
investimento espiritual e litúrgico na Quaresma e valorizar os sinais; os seis
domingos da Quaresma pontuam a caminhada da comunidade.
A Quaresma já chegou. É certamente um tempo litúrgico
muito importante. Porquê? Porque nos conduz à Páscoa e para ela – que é
muitíssimo mais importante – nos prepara. Aqui deixamos algumas notas para a
viver e celebrar validamente:
1. Ter bem claro o objetivo: celebrar de forma autêntica a
ressurreição do Senhor. Objetivo com consequências: a) Mudar a nossa vida, de
modo a assemelhar-nos mais a Jesus; se isso não acontecer, então a celebração
da ressurreição soará a falso. b) Preparar bem e participar na celebração do
Tríduo santo da Páscoa, especialmente na Vigília Pascal; se tal não acontecer,
então a Quaresma será um caminho que não leva a parte nenhuma. Ambas as
consequências (conversão e celebração) são fundamentais para todo o cristão. Sem
elas a Quaresma perde a principal razão de ser.
2. Importa considerar que não há muitas ajudas do exterior
para a vivência quaresmal: o carnaval tende a prolongar-se; as propostas das
mídias são evasivas; mesmo com a “crise”, o tempo da Páscoa é absorvido pela
indústria do turismo. Estas propostas dispersivas atraem muitos cristãos e
desviam‑nos da riqueza espiritual deste tempo favorável.
3. Dada a importância da celebração da Páscoa, torna-se
necessário fazer um grande investimento espiritual e litúrgico na Quaresma e
valorizar os sinais. A peregrinação interior a que somos convidados há de
levar-nos a evitar tudo quanto nos disperse e nos desvie de contemplar o
mistério e de ouvir a voz de Deus. As nossas igrejas deverão, por isso, ser um
convite a essa atitude: não estarão adornadas com flores, nem nelas soarão os
instrumentos festivos. Talvez um crucifixo ou uma bíblia nos possam chamar a
atenção para o essencial: escutar a Palavra e seguir Jesus tomando a cruz de
cada dia. Mas o canto não deixa de desempenhar um importante papel neste tempo
evidenciando a Palavra e restituindo-lhe a sua força expressiva e impressiva. A
Quaresma tem um repertório musical próprio que lhe dá identidade. Neste tempo,
deverá dar-se um lugar muito especial ao canto do Salmo responsorial. Iniciar a
Quaresma com o canto das ladainhas dos santos, acompanhando a procissão de toda
a assembleia para o lugar da celebração, ajudará a perceber que a Quaresma nos
põe em movimento comunitário para a casa do Pai. A riqueza da Palavra de Deus
exige leitores capazes e bem preparados e a expressividade da ação litúrgica
requer acólitos suficientes e competentes, aptos a tornar viva e visível a ação
misteriosa nela contida.
4. Os seis domingos da Quaresma pontuam a caminhada da
comunidade. Os dois primeiros mostram-nos o sentido e a natureza desta nossa
peregrinação: Cristo aparece como protagonista, modelo e mestre da Quaresma; os
quarenta dias no deserto, a luta que se consumará na cruz, por um lado, e a
glória que antecipadamente se revela e que resplandecerá para sempre no corpo
do ressuscitado. Luta e glória que mostram o caminho de Jesus entre as
oposições dos seus inimigos e a certeza da presença do Pai na sua vida. Este é,
pois também, o itinerário da nossa peregrinação: "peregrinando entre as
perseguições do mundo e as consolações de Deus" (Sto. Agostinho). Esta temática
é comum a todos os ciclos.
O ciclo A (este ano) apresenta-nos a mensagem luminosa de
três encontros de Cristo com os homens que assinalam as etapas do itinerário
batismal dos crentes. Como caminho catecumenal (tempo de iluminação e de
purificação) estes encontros purificam e iluminam em contato vivo com a pessoa
de Cristo. Como memória do batismo recebido, renovam a consciência do cristão e
abrem-na à luz de Cristo que sonda as profundezas do coração e purifica os
resíduos necróticos do pecado. A Quaresma prepara para o batismo e para a
revitalização da nossa condição de batizados.
Fonte: Laboratório da Fé
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