A vida nem sempre vai sorrir para nós. Às vezes, a
tempestade e o vento parecem ser um obstáculo no caminho e colocam em perigo a
estabilidade dos nossos alicerces: “A barca, porém, já longe da terra, era
agitada pelas ondas, pois o vento era contrário” (Mt 14, 24).
Nesses momentos, como os discípulos, temos medo e nos
assusta a possibilidade de perder a vida. Esquecemos que, em meio à escuridão,
Jesus está ao nosso lado, caminhando sobre as águas, disposto a acalmar nossa
ansiedade: “Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando
sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram
apavorados e disseram: ‘É um fantasma’. E gritaram de medo. Jesus, porém, logo
lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!”.
As palavras de Jesus nos tranquilizam, nos fazem ter
esperança, levantam nosso ânimo. Tiram de nós esse medo doentio que muitas
vezes nos paralisa. Não queremos ter medo, mesmo sabendo ser este um sentimento
frequente no coração. Nossa vida é muito frágil, e uma decisão precipitada pode
mudar tudo. Um acontecimento inesperado, um diagnóstico com o qual não
contávamos.
Uma pessoa me comentou, há alguns dias: “Tenho certeza de
que Deus faz tudo para o nosso bem e permite este sofrimento para santificar o
meu pai. Para que outra coisa estamos aqui, a não ser para aspirar à vida
eterna? Confio em que Deus nos permitirá continuar vivendo estes momentos com
confiança em seu amor infinito”.
Viver assim na turbulência das ondas, na instabilidade do
barco da vida, que parece a ponto de naufragar às vezes, é um autêntico
milagre, um dom de Deus, uma obra feita pelo Espírito Santo em nós.
Mas a verdade é que nem sempre vivemos com a certeza de
saber que é Cristo quem caminha ao nosso lado, e então surgem as dúvidas:
“Então Pedro lhe disse: ‘Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro,
caminhando sobre a água’”. Pedro quer uma prova racional, porque duvida, ou
melhor, quer um milagre, algo extraordinário que aumente sua fé. Não se conforma
com a voz de Cristo, não acredita que realmente seja Ele, pensa ser um
fantasma, ou talvez um fruto da sua imaginação temerosa.
Há muitas pessoas que veem sua vida de fé enfraquecer-se sem
poder fazer nada. Não confiam e não sabem se abandonar; duvidam, não enxergam
Deus e querem controlar tudo. O Pe. Kentenich nos recorda: “Vivemos em uma era
de enfraquecimento da fé e da vida de fé. Especialmente em épocas como esta,
existem muitas pessoas que, para converter-se, esperam milagres, sinais
extraordinários, visíveis, palpáveis”.
A fé enfraquecida busca sinais que nos confirmem se estamos
no caminho certo. Busca fatos extraordinários. Mas o coração quer se encontrar
com Deus, quer caminhar com Ele. A fé quer ser construída sobre sinais
inquestionáveis, sinais surpreendentes que convençam. No entanto, quando estes
acontecem, não é tão fácil aceitar a gratuidade do amor de Deus, aceitar que
Ele se manifesta milagrosamente em nossa vida.
Depender de Deus dessa forma, experimentar um milagre em
nós, parece excessivo. É como se já não pudéssemos ser donos da nossa vida;
como se nos tirassem o controle sobre a dor e sobre a morte. Diante desse amor
gratuito e inesperado de Deus, surge o desconcerto e nos sentimos perdidos.
Por isso, é tão necessário aprender a agradecer na vida, na
oração. Esta é nossa aprendizagem mais importante, a rocha mais sólida. É
difícil receber as coisas sem ter pago por elas antes, sem que sejam fruto do
nosso esforço. É difícil não controlar a vida e ver que tudo é um dom, um
milagre que não exigimos, que nada do que nos acontece é merecido.
É difícil agradecer pelas coisas que recebemos diariamente
como presente. João Paulo II recordou a necessidade de “ser capazes de
agradecer com a mesma devoção com que sabemos pedir. A gratidão sempre nos
coloca de uma maneira particular diante da Pessoa”. A gratuidade do amor de
Deus nos deixa indefesos.
Não merecemos o amor e sentimos que não temos como pagá-lo.
Por isso, perdemos a vida buscando méritos para devolver o recebido. Pedro não
se contentou com o consolo do Senhor sobre as águas, com a segurança de ver
seus passos firmes no meio das águas agitadas. Por isso, exigiu poder caminhar,
também ele, sobre as águas. Por isso, pediu o milagre do impossível, rebelou-se
diante da gratuidade.
Padre Carlos Padilla
Fonte: Aleteia
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