Muitos jovens tem expressado
grande preocupação com seus relacionamentos, bem como muitos pastores
(coordenadores de grupos de oração) a preocupação com o relacionamento de suas
ovelhas. Certo dia, uma coordenadora partilhou que não sabia o que fazer, pois
nove ovelhas de seu grupo haviam terminado o namoro e as razões pareciam
insuficientes. “Eles parecem desorientados, no entanto, eu não sei o que
fazer”, afirmava a jovem. Não são poucos os casos em que não sabemos o que
fazer quando os jovens passam por crises em seus relacionamentos e outros
sequer conseguem chegar a um. Isso preocupa bastante, leva-nos a refletir de
que maneira, como casais, servimos de luz e de exemplo. E até mesmo sobre como
está nossa abertura à formação dos jovens neste campo fundamental, que é a
afetividade e o namoro. Precisamos entender que para os jovens este é um
assunto fundamental.
Normalmente, quando acontece o
término de um relacionamento por motivos insuficientes, deparamo-nos com
grandes feridas que podem comprometer até mesmo a caminhada na vida com Deus.
Quando me deparei com o grande
número de rompimentos, parei para rezar e uma imagem me veio à cabeça: um rio
de quatro braços, que alcança toda a vida do casal, fazendo frutificar o amor e
o levando a bom termo, que é a alegria de fazer a vontade de Deus.
O Senhor é o centro
Não podemos jamais esquecer que
tivemos uma experiência com o amor de Deus e esta experiência se mostra
autêntica quando nos deixamos conduzir pelo Senhor que nos amou, que conhecemos
pessoalmente. Por isso, o primeiro e fundamental braço deste grande rio é o
Senhor. Ter o Senhor como o centro do nosso relacionamento. Isso significa que
é preciso ter uma vida de intimidade com Deus, pois “não poderei viver o novo a
dois se sou incapaz de vivê-lo de maneira pessoal e comunitariamente” (Escrito
Estado de Vida, 03).
Significa, ainda, ter uma vida de
oração a dois, deixar que o Senhor nos conquiste e nos faça encontrar sua
verdade para nossas vidas. Por meio da vida de oração, provaremos da bondade do
Senhor e descobriremos que o namoro é um caminho de cura. Deixemos que, por
meio da oração e intimidade com Deus, pessoal e comunitariamente, o centro do
nosso namoro seja dado a quem de fato pertence: o Senhor.
A Comunidade é mãe
Muitos relacionamentos surgem
dentro dos grupos de oração, nos Seminários de Vida no Espírito Santo, nos
eventos… Isso é muito bom! Seria bastante estranho se no meio de centenas de
jovens que frequentam o mesmo ambiente, nossos centros de evangelização, não
houvesse ‘apaixonamentos’ e novos relacionamentos. Existem, ainda, aqueles que
entram já com um relacionamento construído, o que também é muito bom, e nada
impede que dê certo. ‘Dar certo’ não significa ficar junto, dar certo é
descobrir a vontade de Deus.
Deus não é um carrasco que pede
para acabarmos nossos relacionamentos. A não ser em casos extremos, por um bem
maior e, mesmo assim, continuamos livres para fazê-lo ou não. Para construir um
caminho de felicidade no relacionamento a dois é necessário olhar para a
Comunidade como uma mãe que, em sua pedagogia, gera e acolhe casais em seus
grupos. Daí a importância de ouvirmos bem o ensinamento de nossa mãe, que se
dá, sobretudo, na vivência do Caminho da Paz, nos acompanhamentos pessoais, e
em outras atividades. Na formação que esta mãe nos oferece está o bom alimento,
o verdadeiro sustento para o nosso namoro. Namorados, olhem para a Comunidade
como uma boa mãe que, a exemplo de Maria, sabe formar Cristo em nós!
Amizade como fundamento
O terceiro braço deste rio é a
amizade. Não se pode compreender um relacionamento, um namoro, sem que este
tenha nascido de uma verdadeira amizade, ou, pelo menos, visto que muitos
começam de qualquer jeito, que se transforme em amizade verdadeira. É preciso
cultivar a amizade com cumplicidade, verdade, sinceridade e transparência,
deixando-se conhecer nas fraquezas e nas virtudes, expondo-se sabiamente ao
outro, com castidade, virtude esta que tem o poder de tornar belo e agradável a
Deus tudo o que toca. A amizade conduz o casal à castidade e esta é a
verdadeira unidade de alma e coração. A unidade sempre será “a ponte que nos
levará ao coração da obra” (Escrito no Coração da Obra em Unidade com o
Carisma, 21).
Missão como objetivo
Somos um povo em movimento, uma
obra missionária. Tudo em nós foi constituído para a missão. Assim, os três
primeiros braços deste caudaloso rio nos preparam para vivermos bem este
‘novo’, que é a missão. Nosso namoro deve trazer o elemento missionário,
devemos ser testemunhas de que a Ressurreição do Senhor nos coloca em movimento
de santidade, evangelização, missão. Quando nos voltarmos para nosso namoro com
olhar missionário, como pessoas enviadas pelo Ressuscitado para este mundo, nos
tornaremos para este mesmo mundo um sinal de que é possível ser santo, de que
não precisamos terminar nossos relacionamentos por razões pouco consistentes.
Quando olharmos para nosso relacionamento com a ótica da missão, nossas crises
acabarão, ultrapassaremos todas, pois não estaremos fechados em nós mesmos. É
muito belo ver jovens que namoram, são apaixonados e não temem passar um ou dois
anos longe um do outro porque um deles partiu em missão. Que testemunho para
este mundo! Sem dúvida, estes serão os mais felizes!
Por que a imagem do rio? Porque a
característica principal de um rio é ter águas correntes. Estas são sempre
saudáveis, que fecundam e fazem brotar a vida por onde passa (Sl 1,3). Que o
namoro seja santo e fecundo, seja um caudaloso rio de quatro braços. Shalom!
Rafael Brito
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